Preso porque livre na escolha das escolhas da minha vida. Preso porque comprometido na decisão de escolher quem quero ser, o que quero ser, como quero ser. Preso porque na minha mão, tomo na minha mão, o sentido da minha vida, a missão da minha vida, os outros na minha vida. Preso por ser livre, encontro nessa liberdade a prisão de não poder dizer que a decisão é de outros. Seria tão mais fácil atribuir a alguém a responsabilidade pelas minhas decisões, os motivos que me levam a fazer, a ser, a ver, a optar. Na verdade quantas vezes o problema se resolveria pelo simples facto de não nos ser deixada alternativa, de sermos obrigados a fazer desta ou daquela maneira, tão fácil seria se tudo se passasse pela imposição do destino, pela mão de Deus nosso Senhor, pela orientação astral ou pela força maior que regulasse o Universo.

Deus não impõe. Mais fácil seria se o fizesse, poupando-me a avaliar o que estaria certo ou errado, o que seria consequente ou apenas estúpido, o que geraria amor, ou mataria por completo qualquer sinal harmonioso de luz na cara do outro. Deus não se impõe. Mais fácil seria se eu fosse obrigado a aceitá-lo sem o conhecer primeiro, a defendê-lo sem o testemunhar, a recebê-lo sem o acolher, a tê-lo em mim sem me aceitar, sem me construir, sem me superar, a acreditar nele sem o ter visto. Deus não me impõe. Mais fácil seria e eu seria sempre verdade, seria sempre sinal, seria sempre vida na vida dos outros e seria sempre sinal na minha vida presa, orientada, apontada como uma flecha aos corações dos outros, que sem alternativa, me tomariam por ideal.

Há uma liberdade de coração que faz com que o que somos seja construído pela liberdade das nossas escolhas. Ninguém me obriga a nada, mais fácil seria porque assim nunca poderia estar preso a esta condição de poder escolher. Na minha vida entram a toda a hora naves espaciais carregadas de emoções, navios-cruzeiro de sensações, comboios de pradaria de momentos únicos que se repetem tantas vezes quanto eu queira que eles vivam em mim. Na minha vida tudo é liberdade de escolha, e dessa liberdade nasce a conquista única de saber poder escolher, de poder escolher sabendo, de escolher sabendo do poder das consequências dessas mesmas escolhas em toda a vida da minha vida única.

Estamos presos na imensa liberdade de nos soltarmos, de fazermos de coração, o que os cativos fazem de obrigação, estando livres dos momentos de escolha. Estou preso porque sou livre de fazer diferente, de fazer de novo, de cair, de me levantar, de retomar o caminho, de ficar parado, de levantar-me de um pulo ou de me prostrar lamentavelmente na minha miséria humana. Estou preso porque livre sou e assim me dou, nessa constante loucura de decidir vivendo, o que me prende à vida, aos outros, ao mundo, estando sempre livre de me prender apenas a mim…

Nuno Camelo