À VOLTA DE DEUS
Organizas o teu mundo com Deus, ou ao lado? O que está no centro da tua vida? À volta de que (ou de quem) gravitam os teus dias? Tenho-me questionado muito nos últimos tempos. Nos momentos de grande indecisão e de viragem reajustamos as coordenadas do que somos e tentamos fazer o melhor possível perante as escolhas que precisamos de realizar, na esperança de sobrevivermos intactos à mudança. E de não deixarmos nada do que (nos) importa para trás.
Fez esta Quaresma 17 (sim, dezassete) anos que fui pela primeira vez a uma reunião de um grupo de jovens. Lembro-me porque esse tempo favorável se torna inescapável para qualquer cristão. Depois, foram 17 anos de projectos em comum, aventuras, amizades, obstáculos, superações, frustração, crescimento, sorrisos, abraços e tanto mais no Ego Vita Sum – é este o nome do Grupo de Jovens do Porto Alto, à letra significa «Eu Sou a Vida» e todos sabemos bem quem proferiu esta frase-desafio. Este foi o meu grupo, o meu ninho, o meu refúgio, o meu alento, a minha inspiração, o meu centro por mais de metade da minha vida, e escrevo «foi» no passado, não é erro, e tenho o coração em suspenso enquanto o faço.
A decisão de que falava era precisamente esta: repensar o meu lugar enquanto membro activo da minha comunidade. Não é que já não me sinta jovem (bem, há aqui uns cabelos brancos a espreitar que se notam bem no meio do cabelo castanho-escuro que herdei da minha avó paterna, dizem que também tive direito ao feitio e à energia dela), a idade conta pouco para as coisas de Deus, mas é chegado o momento de servir de outro lugar. Deus não deixará de ser o meu centro, o meu norte, a coordenada à volta da qual faço tudo o que é humano e bom e bonito, mas a quantidade de tempo que gastarei e as pessoas com quem o partilharei serão (talvez) menores – e sei que isso não significa menos Deus, não posso nem quero retirar esta intensidade de mim.
Mas estou para aqui a falar da minha vida e desta decisão por um motivo maior: quero sublinhar que são os jovens, quase sempre em grupo, que inspiram e renovam a Igreja. Eu não deixei nada para trás, enquanto se ouvirem cânticos e burburinho e brincadeiras e ideias mais ou menos disparatadas para mudar o nosso pequeno mundo, para o aumentar, enquanto isso acontecer é porque há um grupo de jovens por perto. O Ego Vita Sum não precisou nunca mais de mim do que eu dele, mas aprendi que «para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus» (Eclesiastes 3, 1) e faz parte da evolução do cristão crescer em Cristo. E continuo à volta d’Ele, não me vou embora e isto não é um abandono, porque há muito tempo O coloquei no centro daquilo que sou.
Sofia Escourido