Às Terças Com...

Fragilidade – falar dela ou calar?

Porque é que o Papa fala sempre das pessoas que estão nas margens e especifica tantas vezes as pessoas com deficiência?

Recentemente em Fátima referiu-se a elas e aos doentes como um tesouro para a Igreja e para a sociedade… E interpelou-as directamente: “Vivei a vossa vida como um dom e dizei a Nossa Senhora, como os Pastorinhos, que vos quereis oferecer a Deus de todo o coração. Não vos considereis apenas receptores de solidariedade caritativa, mas senti-vos inseridos a pleno título na vida e missão da Igreja. A vossa presença silenciosa mas mais eloquente do que muitas palavras… (…) Não tenhais vergonha de ser um tesouro precioso da Igreja.”

Estas palavras deviam interpelar-nos de modo particular – será que não vemos as pessoas com deficiência como um dom, mas apenas como receptores de solidariedade caritativa, usando a expressão do Papa? Que papel e lugar lhes damos nas nossas comunidades paroquiais?

Na minha paróquia, as pessoas passaram a gostar da presença do meu filho na missa e a estranhar quando eu não o levava. Não foi logo. Ele portava-se mal, podia gritar com força, o que incomodava e assustava. Graças à comunidade Fé e Luz e à maneira como os seus membros reagiam ao comportamento dele, os paroquianos puderam aprender a conhecê-lo e valorizar as qualidades que tinha e a ternura que gerava à sua volta. Tornou-se “presença eloquente”. Nessa altura era dada visibilidade à comunidade e os paroquianos eram convidados a entrar em contacto e a participar nas nossas festas.

De facto, não falar de questões como estas, que não são fáceis, agrava o isolamento passando a mensagem implícita que da fragilidade não se fala, não é para ver. Esta atitude não ajuda as pessoas a fazer o caminho que o Papa lhes propõe. Dar-lhes um papel activo permite-lhes acreditar que Deus nos ama como cada um de nós é, nos momentos em que temos força e naqueles em que a nossa vulnerabilidade nos pode levar a Ele. A todos nós.

As pessoas com deficiência desafiam-nos a ir por caminhos desconhecidos. Ir ao seu encontro vale a pena, mas precisa de alguma informação, de adaptações das linguagens, do meio. Exige atenção e dom de nós para não lhes pedir o que não lhes é possível. Será que nos preocupamos com quem não vê, não ouve, não sobe escadas, ou não compreende logo tudo o que lhes dizemos? É preciso aprender a ouvir as pessoas e as suas necessidades para as acolher e deixar-nos transformar e ir para onde o Espírito Santo nos levar…

Vamos descobri-las e anunciar com elas o amor imenso que Deus tem por cada um.

Alice Caldeira Cabral