O JUBILEU DA MISERICÓRDIA
A Sagrada Escritura diz-nos que Deus é paciente e misericordioso. A sua misericórdia é eterna. E não se trata de uma ideia abstrata mas de uma realidade concreta. É pela misericórdia que Deus se revela como amor, um amor visceral, manifestado em Jesus Cristo, rosto da misericórdia do Pai. Com efeito, em Jesus Cristo tudo nos fala de misericórdia e de compaixão: os milagres, os ensinamentos, os gestos e toda a sua vida oferecida em oblação pela humanidade.
A misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para connosco. É ela que suporta a vida da Igreja. E, por isso, o anúncio da misericórdia de Deus há-de ser missão prioritária da Igreja, que nunca se pode cansar desse anúncio até que chegue ao coração e à mente de cada pessoa.
No entanto, S. João Paulo II lamentava o descuido em que tinha caído o tema da misericórdia e considerava urgente anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo contemporâneo (DM, 2). E o papa Francisco, cuja vida está muito marcada pela misericórdia, considera que o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma acção pastoral renovada. Pois, da vivência e do testemunho da misericórdia depende a credibilidade da Igreja e da sua mensagem. Foi por isso que, consciente da importância fundamental da misericórdia na vida da Igreja e na vida de cada um dos seus fiéis, na véspera do Domingo da Misericórdia (11.04.15), publicou a bula intitulada O Rosto da Misericórdia, pela qual proclamou para toda a Igreja um Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que há de ser uma experiência viva de proximidade com o Pai, capaz de revigorar a fé e tornar mais eficaz o testemunho dos crentes.
O JUBILEU
Na tradição bíblica, o jubileu celebrava-se de forma habitual com uma periodicidade bem definida e tinha por objectivo amortizar dívidas, perdoar ofensas e corrigir desigualdades na comunidade. A Igreja, inspirada nessa salutar tradição bíblica, a partir do século XV, começou a celebrar todos os vinte e cinco anos, um jubileu ordinário e, quando algum motivo especial o justifica, celebra também jubileus extraordinários. É o caso do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Com este jubileu, o papa Francisco propõe a todos os fiéis cristãos que abram o seu coração aos que vivem nas periferias existenciais e se disponham a cuidar-lhes das feridas com o óleo da consolação e a enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas, sem se deixarem cair na indiferença que humilha nem na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade. Ao contrário, é preciso abrir os olhos para ver as misérias do mundo e ir ao seu encontro, pondo em prática as obras de misericórdia, que nos ajudam a entrar no coração do Evangelho, vivendo como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.
O jubileu tem como finalidade restabelecer a harmonia interior de cada um e a harmonia social, mediante a conversão individual e uma adequada inserção na comunidade. Para que isso seja possível, a Igreja coloca à disposição dos fiéis, além dos meios ordinários da vida cristã, alguns meios extraordinários, ao longo do Ano Santo que terá início, na Basílica de S. Pedro em Roma, com a abertura da Porta Santa ou Porta da Misericórdia, no dia oito de Dezembro, solenidade da Imaculada Conceição e 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II, e se prolongará até à solenidade de Cristo Rei, no dia vinte de Novembro de 2016.
PEREGRINAÇÃO E PORTA DA MISERICÓRDIA
Dois dos elementos mais significativos do Ano Santo são a porta da misericórdia e a peregrinação. A peregrinação implica afastamento das actividades e preocupações quotidianas, a fim de encontrar mais tempo e espaço para a oração, para a reflexão e para a conversão. Ao percorrer o caminho que o separa da porta da misericórdia, o peregrino dispõe-se interiormente para se encontrar com Aquele que a porta simboliza – Jesus Cristo. Foi Ele que disse: Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo (Jo 10,9). Ora, o verdadeiro objectivo da peregrinação não é passar a porta da misericórdia mas celebrar o encontro com Cristo, mediante o acolhimento da misericórdia que Ele nos oferece, num coração sincero e contrito. Com efeito, a graça do jubileu obtém-se pela conversão e pela purificação interior. Está associada com a celebração dos sacramentos da Confissão e da Eucaristia, com a profissão de fé e com a oração pelas intenções que o santo padre tem no seu coração, agradecendo-lhe desta forma os meios extraordinários que nos proporciona para a nossa conversão.
Primitivamente, a peregrinação jubilar era feita a Roma. Posteriormente, diversificaram-se os lugares. Este ano, para que todos possam obter a graça da indulgência jubilar, o papa autoriza que nas dioceses haja uma ou mais portas da misericórdia. Na nossa Arquidiocese a Porta da Misericórdia está no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa, que oferece melhores condições de acolhimento e de recolhimento do que a Catedral. Será aberta no próximo dia 13 de Dezembro e fechada no dia 13 de Novembro de 2016. Cada um poderá peregrinar a esse Santuário Nacional quando e nas condições que julgar oportunas. Porém, tenha em conta as peregrinações previamente agendadas e registadas no nosso programa pastoral. Entre elas saliento a Peregrinação Diocesana das Famílias, no dia 28 de Maio, para a qual convido todas as famílias da Arquidiocese.
O papa da misericórdia pensa nas periferias e quer que todos possam celebrar o jubileu. Por isso, concede a graça do jubileu aos doentes e às pessoas idosas e sós, que não podem sair de casa, se procurarem viver com fé e esperança jubilosa a provação em que se encontram, recebendo a comunhão ou participando na santa missa e na oração comunitária, ao menos através dos meios de comunicação social. De igual modo, os encarcerados podem obter a graça do jubileu na capela do estabelecimento prisional ou, na falta de capela, dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, quando passam pela porta da própria cela.
É vontade do papa e também é compromisso nosso, durante este ano pastoral, que a misericórdia adquira visibilidade através da prática das obras de misericórdia, que traduzem de forma concreta o mandamento da caridade. Neste ano, aos motivos de caridade, o papa junta outro incentivo: todas as vezes que um fiel viver uma ou mais obras de misericórdia, pessoalmente, obterá, sem dúvida, a indulgência jubilar. De acordo com a tradição da Igreja, a indulgência jubilar pode ser obtida também por quantos faleceram, a quem estamos unidos pelo mistério da comunhão dos santos.
A CONFISSÃO
A graça do jubileu está associada ao perdão dos pecados, mediante o sacramento da confissão. Para que a todos possa ser facilitado o acesso à confissão, peço aos ministros do perdão que, durante
todo o Ano Santo da Misericórdia, estejam mais disponíveis para acolher os penitentes, nos lugares e horários mais cómodos para os fiéis. No Santuário de Vila Viçosa, ao menos ao fim de semana, haverá sempre sacerdotes disponíveis.
Por concessão especial, durante o Ano Santo da Misericórdia, todos os confessores podem absolver, no foro interno, dos delitos não reservados à Santa Sé, nomeadamente do aborto. E, para que a misericórdia divina possa manifestar-se em plenitude, na Quarta-feira de Cinzas e a meu pedido, o papa Francisco enviará para a nossa Arquidiocese, como Missionário da Misericórdia, o P. Giovanni del Ponte, Mater Dei, com a missão de pregar a Misericórdia e distribuir a graça do perdão, com poder para absolver de todos os pecados, mesmo os reservados ao Sumo Pontífice.
Neste ano santo, as atenções de todos nós irão centrar-se no Santuário da Padroeira e Rainha de Portugal, onde se encontra a Porta da Misericórdia, símbolo de Jesus Cristo, verdadeira porta de salvação para toda a humanidade, que veio habitar entre nós por intermédio da Virgem Imaculada, escolhida para Mãe do Redentor e se tornou para nós Mãe de Misericórdia. Voltemos para ela o nosso olhar e, com esperança filial, rezemos-lhe a oração antiga e sempre nova da Salve Rainha.
Évora, 20 de Novembro de 2015
+José, Arcebispo de Évora
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Sacramento da Reconciliação durante o Ano da Misericórdia no Santuário de Nª Sª da Conceição:
- Sábados, das 10h às 12h.
Missionário da Misericórdia, P. Giovanni del Ponte, Mater Dei