REVEJA AQUI A TRANSMISSÃO DA CATEQUESE QUARESMAL DE 7 DE MARÇO DE 2023.
O tema proposto para a primeira conferência quaresmal foi:
“um apelo à interioridade”. A interioridade bem vivida não é uma fuga ao mundo e seus problemas, é antes o que nos permite situar diante do mundo e dos seus problemas. Se acreditamos e experimentamos que o Espírito Santo foi derramado nos nossos corações, então entrar em sintonia com essa presença interior ajudar-nos-à seguir na nossa vida o Espírito de Jesus. Isso é o que a Igreja mais precisa, ontem e hoje. Disse um grande teólogo que “o cristão do futuro será um místico, ou não será”. Esse futuro é o nosso presente.
Acedemos à nossa dimensão interior através de uma vida orante.
Mais do que dizer as orações formais, isto significa entrar na atitude à qual os momentos formais de oração nos introduzem. Essa atitude interior transparece para o exterior. Foi por isso que os discípulos, ao verem que Jesus rezava, lhe pediram que os ensinasse a rezar… e Ele ensinou-lhes a oração do Pai Nosso.
Podemos dizer esta oração sem pensar, de forma maquinal… ou aprender a saboreá-la, acolhendo cada uma das suas expressões
A mesma coisa podemos dizer da principal oração comunitária dos cristãos:
A Eucaristia. Se virmos bem, na Eucaristia estão presentes as principais atitudes que constituem uma vida de oração. Na eucaristia pedimos perdão pelos nossos pecados, escutamos a Palavra, aprofundamos como é que a palavra se actualiza, pomos diante de Deus os nossos pedidos, louvamos, entregamos a vida, adoramos, saboreamos uma presença interior e espiritual. Mais uma vez a grande questão é: estamos na missa de forma maquinal, meio distraídos… ou aprendendo a saborear e acolher cada um dos seus momentos?
Este desafio é para todos… a começar por mim!
Outra excelente forma de atenção interior é a re-leitura orante do meu dia. Aqui volto à ideia de interioridade não como um refúgio, mas como o centro mais verdadeiro de mim mesmo que vou aprendendo a habitar e que – como qualquer boa casa – se torna o centro do meu mundo, o lugar de onde eu parto para o mundo. A nossa dimensão interior passa em primeiro lugar pelos sentidos (exteriores e interiores) que captam e filtram as realidades que vêm a nosso encontro: “como é que eu vi aquela questão”? “Soube-me bem aquele encontro”, “aquela questão cheirou-me a esturro”, “foi tocante teu gesto”, “ouvi bem o que me disseste”… Dos sentidos espirituais passamos ao coração, o lugar onde se cruzam as memórias e a inteligência, o lugar onde ponderamos as coisas a as fazemos nossas. A que é que eu, no fundo, adiro com confiança? O que é que “faço meu”? Com quem é que o meu coração dialoga. Abre-se aqui o lugar para a verdadeira devoção interior aos corações de Jesus e de Maria. As atitudes centrais do coração hão de traduzir-se em actos e gestos, fruto da minha vontade. A interioridade sai para o exterior e dá testemunho pelas boas obras, as obras de misericórdia, o bem ao meu alcance.
P. Miguel Gonçalves Ferreira, sj